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Foto do escritorJosé Carlos Navarro Carvalho

Fechamento da Livraria Cultura: Impactos na arquitetura de São Paulo

No ano de 2007, uma grande obra interrompeu uma das principais avenidas do país: a substituição das calçadas da Avenida Paulista por um novo padrão mais moderno e acessível. Essa substituição dos pisos das calçadas foi um marco para a cidade e serviu como modelo para outros lugares. Seria correto afirmar que essa modificação abrangeu toda a extensão de 2,8 km da avenida, exceto por uma única exceção: a quadra do Conjunto Nacional.

Uma coisa que ouvi muito na faculdade é que um arquiteto só atinge o ápice da carreira após os 40 anos. No entanto, Daniel Libeskind era uma exceção: ele tinha apenas 26 anos quando projetou um dos edifícios mais icônicos da cidade. Sua calçada de pedras portuguesas, que percorre todo o pavimento térreo, criando uma sensação de permeabilidade, embora seja um deleite visual, não segue os padrões de acessibilidade. Entrar no Conjunto Nacional não se assemelha a entrar em um shopping; é quase como entrar em uma praça coberta.


Assim como a Praça da República ou a Praça Dom José Gaspar, o local carece de bancos, tomadas e outras comodidades públicas. Não se trata apenas de um edifício privado; é um dos melhores exemplos de espaços semipúblicos de São Paulo.


Dito isso, imagine-se chegando à Praça Dom José Gaspar e descobrindo que a Biblioteca Mário de Andrade simplesmente fechou as portas. Isso seria um choque. Além dos protestos óbvios, consigo imaginar a quantidade de reportagens, postagens nas redes sociais e a indignação coletiva que tal fato causaria. Acredito que a melhor descrição seria uma sensação de impotência, questionando como um governo que utiliza o BNDES para perdoar 70% da dívida do Grupo Collor de falência permite que isso aconteça.


Essa foi a minha sensação ao chegar no Conjunto Nacional e encontrar a nossa querida Livraria Cultura fechada. É, no mínimo, estranho pensar no Conjunto Nacional sem a famosa livraria. Ela chegou ao Conjunto Nacional em 1969, apenas 11 anos após a abertura do edifício, e cerca de 20 anos após a fundadora Eva Herz decidir transformar seu negócio de aluguel de livros em uma loja, juntamente com seu filho, Pedro Herz.


Desde a abertura até 1997, a livraria expandiu e abriu diversas lojas no conjunto, incluindo uma dedicada à informática, negócios, finanças, marketing e ciências; uma especializada em publicações de ensino de línguas estrangeiras e dicionários; e uma loja voltada para as áreas de literatura e humanidades.


Houve também uma reformulação completa da primeira unidade, que passou a vender exclusivamente livros de arte. A Livraria Cultura foi pioneira no mercado de vendas online, inaugurando seu site em 1995 como o primeiro e-commerce dedicado a livros no Brasil. Em 2007, uma grande reforma, liderada pela terceira geração da família Herz, inaugurou o espaço atual, projetado por Fernando Brandão, que também inclui um teatro e um café, ocupando uma área de quase 5.000 m². Apesar de ser um espaço voltado para práticas capitalistas, a Livraria Cultura está longe de ser uma loja comum. É um marco, um ponto de encontro.


Quantas vezes não esperei meus amigos mais atrasados - ou deixei os mais pontuais esperando - no meio das prateleiras, enquanto folheava alguns livros. Basta olhar para a rampa que garante o acesso do térreo ao primeiro pavimento para me recordar rapidamente de lançamentos de livros, eventos e até mesmo encontros de alunos que já presenciei ali.


Embora haja, de fato, uma crise no mercado de livrarias, tanto o caso da Cultura quanto o da sua concorrente Saraiva não são vistos como questões de mercado, mas sim como resultados de um plano de expansão mal planejado. Assim como outras lojas da rede, como a maravilhosa loja do Iguatemi projetada pelo Studio MK27, que considero um dos melhores projetos do Estúdio e uma das melhores livrarias que já visite.


Vale destacar que a loja do Iguatemi possuía uma ampla arquibancada, além de poltronas, para que as pessoas pudessem ler e folhear os livros gratuitamente. Parece que o destino do espaço é receber outra livraria, segundo informações do mercado. No mais, nos resta esperar que mantenha o mesmo encanto da Cultura.

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